Lana D'Ávila Campanella

Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), lotada no Curso de Relações Públicas Multimídia, campus de Frederico Westphalen.
Doutora (PUCRS/2008) e Mestre (PUCRS/2002) em Comunicação Social, linha de pesquisa: Comunicação e Poder nas Organizações. Especialista em Gestão Empresarial (ACIRS/2000). Graduada em Relações Públicas (PUCRS/1999). Foi docente das Faculdades-Riograndenses (FARGS) nos cursos de Hotelaria e Turismo; do SENAC/RS atuando em PoA e Pelotas nos cursos de Especialização, Graduação e Técnicos na área do Turismo; e da Famecos(PUCRS) no curso de Relações Públicas. Atuou por quinze anos junto ao mercado publicitário gaúcho por conta de sua agência de propaganda, a SIGNO, além de exercer inúmeras atividades voluntárias vinculadas à comunidade italiana: Diretora de Comunicação e Eventos da Associação Cultural Italiana do RS (ACIRS) e Conselheira do Comitato degli Italiani allestero (COMITES/RS). Além de ter sido Conselheira Suplente do Conselho Regional de Relações Públicas (CONRERP RS/SC - 2007/2009) e atualmente, Delegada do CONRERP RS/SC da região do Alto Médio Uruguai. É membro do Comitê Nacional de Cerimonial e Protocolo (CNPC/Brasil). Suas principais áreas de atuação são: o Planejamento Estratégico em Comunicação; a Comunicação Institucional e Mercadológica e a Organização de Eventos com ênfase em Cerimonial Público.

Relações Públicas Internacionais

O CONSULTOR DE RELAÇÕES PÚBLICAS NA ITÁLIA

21/05/2012 16:59

Lana D'Ávila Campanella

 

Autores italianos como: Roggero e Pecchenino (1995), Settaro (1994), Invernizzi (2001), entre outros são unânimes quando citam os aspectos positivos e negativos do consultor de Relações Públicas na estrutura organizacional na realidade italiana. Pode-se resumi-los em:

-Pode não vivenciar o quotidiano da empresa e os problemas de clima organizacional, contudo, está livre de juízo e menos condicionado a deixar-se influenciar pelo meio organizacional;

-Sendo um profissional liberal, o consultor atende a várias organizações (não a concorrência, por questões éticas) e com isso, acumula, analisa e filtra uma grande quantidade de dados que contribuem para a sua experiência refletindo diretamente nas organizações em que atua;

-Por estar em constante contato com o ambiente externo, possui um mailing de relacionamentos e uma gama de informações;

-O custo de uma consultoria, apesar de ser alto é justo, dependendo do problema da empresa. Geralmente, para uma média empresa, o custo de uma consultoria paga o salário anual de um funcionário de médio staff.

O consultor pode atuar individualmente ou fazer parte de uma agência de consultoria – normalmente composta por duas ou quatro pessoas – que apresentam características similares a atuação individual. Uma agência média, teoricamente divide o seu staff em consultores especializados: em eventos, público interno, planejamento e implantação, pesquisa, assessoria publicitária e de mercado, e outras categorias que possam advir das necessidades dos clientes que atendem. Cavallo (1993) cita os serviços que, geralmente, compreendem a rotina de um consultor:

-Corporate imagine - posicionamento ou reposicionamento da imagem organizacional e sua identidade corporativa corporate identity ;

-Marketing communications - comunicação de um serviço/produto, através de promoções e eventos;

-Internal relations - estudo, análise e soluções no ãmbito das relações da organização com os seus funcionários e criação ou modificação de uma cultura organizacional;

-Community relations - estudo, análise e solução para os problemas da organização com a comunidade onde está inserida em temas como: segurança no trabalho, ambiente e ecologia, ajuda as autoridades locais, intervenções culturais e recreativas;

-Comunicazione economico-finanziaria - juntamente com o apoio de analistas e de jornalistas do setor, bem como, o apoio junto às pesquisas publicadas pelos organismos oficiais, com o intuito de publicar documentos da organização (balanço, relatórios, semestrais, cartas para acionistas);

-Rapporti com le istituzioni e public affairs - monitoramento legislativo-normativo relativo as normas governamentais, atividades de lobby, informações das ações da organização para os parlamentares e ministérios;

-Casi di emergenza - análise de crises, planejamento e desenvolvimento de ações.

O profissional de Relações Públicas – como consultor – em relação aos outros profissionais de comunicação é comparado a um maestro que coordena vários setores para a boa execução de uma única partitura que têm por protagonista a organização. A função do profissional de Relações Públicas na organização é recente e, ainda, necessita de referências que valorizem a profissão e sua real importância. Certamente, o profissional deverá ajudar aos demais setores da organização a compreenderem sua função e a valorizarem sua atividade procurando a compreensão e o apoio do top management (Cavallo, 1993), ou seja, do alto escalão, criando interesse em relação a sua própria atividade e no planejamento que está desenvolvendo.

Em outras palavras, o profissional de Relações Públicas deve influenciar e convencer o top management de sua validade e da importância de seu planejamento de comunicação obtendo, assim, uma perfeita definição da própria posição dentro da organização. Deve fazer valer a sua profissão outorgando-a respeito e dignidade e acreditando em seu real valor.

O perfil que identifica um profissional de Relações Públicas na Itália, segundo Roggero e Setaro (1994) consiste em:


-Ter cursado um curso de Láurea – equivalente ao curso de Graduação no Brasil na área econômica ou humanística;

-Ter se aprofundado na atividade através de estudos no exterior - na Europa ou nos Estados Unidos – uma vez que o sistema universitário italiano propicia através de programas (Sócrates/Erasmus e Leonardo da Vinci) oportunidade de estagiar em outros países;

-Buscar experiências ou estágios em organizações durante a vida acadêmica;

-Expressar-se corretamente, escrever com clareza e falar pelo menos duas línguas estrangeiras;

-Ter experiência em redação;

-Saber falar em público e não se intimidar com o tamanho de uma platéia;

-Ter feito cursos de extensão nas áreas da história, psicologia e sociologia;

-Ter viajado e continuar viajando muito para que possa obter conhecimentos gerais e ampliar sua visão de mundo;

-Saber valer sua própria personalidade, profissão e idéias;

-Saber ouvir críticas e aproveitá-las para o próprio crescimento profissional;

-Ler muito, pelo menos quatro jornais por dia, duas revistas por semana, um par de publicações especializadas de sua área ao mês (de preferência alguma publicação estrangeira) e dois a três livros por mês;

-Estar sempre envolvido com o meio social: livros, cinemas, esportes, arte, etc.;

-Conhecer vinhos e ter noções básicas de gastronomia e no trato à mesa;

-Vestir-se de maneira clássica, com um mínimo de gosto (não é indispensável, mas facilita a comunicação com o interlocutor).

 

REFERÊNCIAS

CAVALLO, Antonio. Pubbliche Relazioni e Comportamento in Servizio. Bari: Levante, 1993.

INVERNIZZI, Emanuele. Metodi e Gestione delle Relazioni Pubbliche 1 e 2. Milano:IULM, 2001.

ROGGERO, Giuseppe e SETARO, Mariateresa. Teoria e tecnica delle Relazioni Pubbliche. Milano: Lupetti,1994.

Public Affairs

13/03/2012 21:02

Lana D'Ávila Campanella

Colegas do Rede de Notícias RP-Online, é com grande prazer que posto meu primeiro artigo que inaugura uma série de matérias alusivas às Relações Públicas Internacionais. Há muito que se contar. E, em tempos de globalização e convergência midiática e cultural, faz-se imprescindível que tenhamos um olhar mais atento ao que se passa do outro lado do continente como forma de interagirmos e nos posicionarmos frente às demandas de mercado. Em um primeiro momento, a ênfase dar-se-á por conta das Relações Públicas na Itália: tendências e práticas.

Na Itália, a divisão clássica dos públicos não difere do que ocorre nos demais países, inclusive, no Brasil. Contudo, atualmente, existem os públicos que são apontados como prioritários na atividade de Relações Públicas na Europa – segundo dados da Confédération Européenne dês Relations Publiques (CERP). Podem-se dividir esses públicos em: public affairs, consumidores, público interno, comunidade, etc. O segmento de pubblic affairs advém da necessidade de uma empresa ou de uma organização ter eficácia na sua relação com autoridades públicas. Pois, nenhuma atividade industrial, comercial ou de serviços pode ser dirigida sem a influência das leis, regulamentos e normas estipuladas pela região, país ou outros países com que se relacionam.

A ação do profissional de Relações Públicas no setor público é uma função delicada e ao mesmo tempo criativa. O produto (belo ou feio, grande ou pequeno, caro ou barato) é um bem real, tangível, visível enquanto na prestação de serviços – no caso, público - “não se toca”, sendo, portanto, um bem intangível.  No campo das ideias, a comunicação é mais centrada e dogmática sem permitir muitas intervenções. Sendo, a função primordial das Relações Públicas neste setor, “a de prever e solucionar possíveis conflitos oriundos de políticas impróprias junto à comunidade” (Arena, 1988, p.28).

Os serviços prestados ao estado ou ao município (serviços de: transporte, telefonia, gás, luz, água, etc.) são contratados mediante concorrência, pela Administração Pública no intuito de limitar o monopólio – embora, a situação de costume seja a de manter, durante anos as mesmas entidades ou grupos no poder. Para modificar esse monopólio, cabe ao profissional de Relações Públicas atuar com inteligência levando em conta o principal objetivo da empresa pública: o de ativar um intenso fluxo de informações dedicado ao usuário.

O profissional que atua na empresa pública no setor de comunicação tem na Lei Complementar nº 150, de sete de julho de 2000, a legitimação da atividade de informação e comunicação como disciplina autônoma. O art.1º desta lei descreve a função como:

É a atividade de informação e comunicação institucional da administração pública que se encarrega de:

- Informar os meios de comunicação de massa, através de instrumentos orais, visuais e telemáticos;

- Da comunicação externa dirigida ao cidadão e a coletividade através de meios técnicos e organizacionais;

-  Da comunicação interna;

- Ilustrar e tornar de conhecimento público os dispositivos normativos que regem determinado serviço, a fim de facilitar sua aplicação;

-  Ilustrar a atividade da instituição e seu funcionamento;

- Favorecer o acesso ao serviço público, promovendo o conhecimento;

- Promover o conhecimento em profundidade a respeito de temas de relevância pública e social.

A competição em um mercado único, a livre circulação do comércio e dos serviços são elementos fundamentais no processo de crescimento da vida econômica e social, fazendo com que as empresas tenham que se preparar para esse mercado. Conhecer as diversas normas da comunidade onde a organização opera e seus efeitos frente aos interesses da empresa, legitimar a organização com honestidade e transparência é uma necessidade vital e indispensável. Essa relação com os poderes públicos e instituições em todos os níveis, é comumente definida na Europa de public affairs.

Uma atividade sujeita a regras de comportamento bem precisas e que é considerada uma parte integrante da atividade de Relações Públicas, porque opera para criar condições de diálogo da empresa com a opinião pública. O público de referência da atividade de public affairs é o governo, parlamentares, ministérios, autoridades regionais, autoridades locais, órgãos de caráter público onde operam membros eleitos e funcionários públicos, representando o interesse coletivo. Pranstraller (1992, p. 68) comenta que “o profissional de Relações Públicas nessa atividade está ligada intrinsecamente a questões de ética e comportamento profissional e ao código de auto-regulamentação” adotado por toda Europa.

A função primordial do profissional de Relações Públicas é a de representar os interesses e pontos de vista de uma organização em relação ao governo, com o objetivo de iniciar um processo de comunicação de duas vias. Roggero e Pecchenino (1995, p.159) definem a atividade de public affairs como “relações com as instituições públicas” e afirmam que, a atividade exprime “a vontade da organização em exercitar todos os seus direitos e seus deveres como cidadãos de uma comunidade”.

A especialização em Relações Públicas na área de public affairs exige conhecimento profundo da empresa, conhecimento dos aspectos que envolvem a produção e a comercialização de produtos e serviços e ciência dos aspectos legais como: direito administrativo e societário referente á organização.

REFERÊNCIAS

ARENA, Gregório. Gli uffici per le Relazioni com il Pubblico. Milano: Giuffrè, 1988.

CERP-Confédération Européenne des Relations Publiques/European Confederation of Public Relations (www.cerp.org).

PRANDSTRALLER, Gian. Guardare alle professioni. Milano: Angeli, 1992.

ROGGERO A. e PECCHENINO, Mauro. Le Relazioni Pubbliche nel mondo che cambia: chi, cosa, dove, quando, perche?. Milano: Lupetti, 1995.